sábado, 3 de março de 2018

O citrino Kumquat


Falei a primeira vez no Kumquat no Dicionário Gastronómico «Do comer e do falar…» que escrevi com a minha amiga Graça Pericão. Cada um dos capítulos, que corresponde a uma letra do alfabeto, tem uma representação de um alimento começado por essa letra. O K esteve para ser o Kumquat mas acabou por ganhar o mais conhecido Kiwi.
Na altura ainda eu não tinha provado este fruto que agora já se cultiva em Portugal. Originária da China, tal como outros citrinos, passou depois para o Japão. Kumquat ou chin can significa em chinês «laranja de ouro», tal como o vocábulo japonês kinkan.
Gravura de 1874 de Hood Fich
O seu nome científico é Citrus japonica que veio substituir a designação antiga Fortunella margarita, nome atribuído a uma das suas variantes trazida da China para Londres em 1846 por Robert Fortune[1], um explorador de plantas pertencente à Royal Horticultural Society. Em 1850 já era conhecido nos Estados Unidos.
Laranja do Algarve, de Setúbal e Kumquat
Na literatura chinesa foi mencionado em 1178. E nós os portugueses, os responsáveis por ter divulgado a laranja a partir da China, também conhecemos precocemente o kimquat como afirmou um escritor europeu, de que desconheço o nome, que em 1646, lhe havia sido referido por um missionário português que se encontrava na China.
Em 1712 este fruto já fazia parte das plantas cultivadas no Japão e daí a sua designação. A planta de pequeno porte foi durante séculos apreciada como planta ornamental. Os japoneses fazem com elas lindíssimos bonsais, porque uma pequena árvore dá imensos frutos.
Nagami. Planta enxertada. Foto tirada da internet.
Existem quatro variedades principais que são: a “Marumi”, de frutos redondos; a “Nagami”, de frutos elipsóides a ovais; a “Fukushu”, de frutos redondos a piriformes e a “Variegada”, de frutos variegados de listas amarelas.
No meu último almoço no restaurante Cotrim, em São João da Talha, um lugar escondido onde se come óptima comida portuguesa, experimentei a variante oval ou Nagami. Come-se com casca e é deliciosa. As que experimentei tinham vindo de Mação mas há já outros locais onde é cultivada.
Para além de muito agradável ao natural (embora haja quem a considere ácida) deve ser muito boa em conserva doce. Guardei as sementes porque pode ser cultivada em vasos mas é preferível comprar a planta já desenvolvida. Fiquei fã.

[1] A quem se atribui também a introdução do chá, trazido da China, na Índia na região de Darjeelling, em 1848.

2 comentários:

João Nobre disse...

É uma fruta muito boa, mas infelizmente, demasiado cara. Já escrevi sobre a mesma aqui:

http://historiamaximus.blogspot.pt/2016/01/kumquat.html

Ana Marques Pereira disse...

João José Horta Nobre,
"Les beaux esprits se rencontrent." Obrigada.