segunda-feira, 9 de março de 2015

Centro de Mesa Veyrat. Um bom filho à casa torna.

Centro de Mesa da baixela Veyrat- Foto Vasco Cunha Monteiro, Cabral Moncada Leilões
Para quem gosta da história da mesa a notícia não pode ser ignorada. A chegada ao Palácio Nacional da Ajuda do centro de mesa da baixela de prata Veyrat é como o regresso do filho pródigo a sua casa.
Agora novamente sobre a mesa da sala-de-jantar vem completar o conjunto de quase 300 peças da mesma proveniência, de que fazem parte várias peças de mesa, um faqueiro e um serviço de chá e café. Este conjunto, designado  “prata de casamento”, foi provavelmente oferta de Victor Emanuel II, rei de Itália, pai de D. Maria Pia, e terá sido trazido por esta para Portugal aquando do seu casamento com o rei D. Luís I, em 1862.
Sala de jantar do PNA (Foto AMP)
Se as restantes peças se mantiveram no Palácio, o centro-de-mesa, mais valioso, foi entregue ao Banco de Portugal em 1903, para pagamento de dívidas da rainha D. Maria Pia, e leiloado em 1912. Em mãos privadas até ao final de 2014, foi readquirido pelo Estado e pode agora ser visto sobre a mesa da sala de jantar.
Centro de mesa Veyrat (Foto AMP)
O centro de mesa, em prata, apresenta as Armas Reais de Portugal e Sabóia, e é formado por um conjunto de 5 meninos (“Putti”) que seguram grinaldas de flores, de onde se suspendem três cestos encanastrados,  onde eram colocadas taças de vidro. O conjunto assenta sobre um plateau recortado.  
A baixela, de que o serviço faz parte foi feita por Augustin Pierre Adolphe Veyrat, com loja localizada na Rue de Malte, 20 , em  Paris. Era filho de um outro ourives francês Jean Francois Veyrat, a quem se seguiu no negócio em 1840, altura em que registou a sua marca. Em 1849 a firma tomou a designação Veyrat Fils.  

Fotografia antiga de  Henrique Nunes
Este tipo de centro de mesa tem a designação de “épergne”, uma palavra sem tradução para português. A palavra usada em inglês “epergne” significa «economia» e teve anteriormente a forma mais inglesa de «aparn». É uma corruptela do francês “épargne”, uma alteração que terá surgido em meados do séc. XVIII. Na 4ª edição do Dictionnaire de L’Academie,  de 1762, diz-se que esta era a forma antiga para «Tesouro Real», onde se colocava a prata do rei. 
Épergne feito por Thomas Pitts, V &A Museum, séc. XVIII
Passou depois a designar uma peça ornamental que servia de centro de mesa da sala-de-jantar constituída por vários cestos ou taças, geralmente destacáveis (é o caso dos dois cestos laterais do centro Veyrat) e que serviam para colocar flores, frutos, bonbons ou  doces. Eram geralmente feitos em prata, bronze ou outro metal e apresentavam um número varíavel de taças em vidro. Estes conjuntos podiam ser ornamentados por figuras (casos dos putti na baixela Veyrat).
Para não me alongar sobre o centro de mesa chamo apenas à atenção para o pormenor interessante do menino sentado num balouço florido, debaixo do cesto central, peça que podia ser trocada por um globo de cristal com tampa perfurada em prata, onde se podia colocar um pequeno peixinho.
Pormenor do aquário do centro de mesa Veyrat (Foto AMP)
A evolução dos centros de mesa é um assunto muito interessante, muito do meu gosto, mas que não pode ser desenvolvida num blogue. Para quem quiser saber mais pode ir ouvir a Drª Cristina Correia Neiva no dia 21 de Março, às 11,30, no Palácio da Ajuda.

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