sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Pois, Pois, J. Pimenta

A região de Tomar forneceu muitos dos construtores que alteraram a arquitectura de Lisboa na primeira metade do século XX. A grande maioria chegava como servente e subia depois a construtor, tendo ficado conhecidos por «patos-bravos».
João Pimenta, nascido na aldeia do Souto, perto de Abrantes começou também como servente na construção civil. Em 1956 fundou a empresa «J. Pimenta, SARL » que teve um impacto enorme na construção da época. Começou por construir habitações na Reboleira e posteriormente em Cascais, Paço de Arcos, etc.
Em 1970, nos «Anúncios de Portugal» surgia publicidade ao empreendimento «Miratejo » afirmando-se que tinham sido vendidos em 8 meses mais de 80 lotes e mais de 350 apartamentos.
J. Pimenta apoiou-se bastante na publicidade, quer através da empresa Sistema, quer através da Parodiantes de Lisboa, que terão sido os criadores da expressão «Pois, pois, J. Pimenta», que tanta aceitação teve. O anúncio apresentado na rádio era mais extenso e começava por «Atchim, Santinho», a que outra voz respondia «Santinho não, pimenta», para terminar com «Pois, pois J. Pimenta», que ficou no ouvido e foi repetido com o sentido de «pois sim».
 
A publicidade de 1970 mostra-nos vários blocos em construção em Miratejo, com apartamentos de 2 a 5 divisões e onde era introduzido o modernismo da kichenete. A imagem da cozinha, e a projecção do andar, revela-nos a simplicidade do apartamento que, por 160 contos, era já vendido com móveis Olaio e equipado com máquina de lavar roupa, frigorífico, fogão, esquentador e exaustor eléctrico de fumos. Uma modernidade para a época que foi um sucesso. 
Com o 25 de Abril contudo a empresa, como tantas outras, ficou nas mãos dos trabalhadores e não resistiu aos tempos. Tal como o seu fundador que teve que emigrar para o Brasil. Quando regressou tentou recuperar a empresa mas os tempos eram outros e não foi possível.
Ficou a expressão «Pois, pois, J. Pimenta» e resistiu também este boneco publicitário de louça, sob a forma de cozinheiro que, na realidade era um cinzeiro. Fabricado pela Fábrica de «Cerâmica Madalena», de Leiria, fundada em 1945 e que em 1970 passou a designar-se «Nova Cerâmica da Madalena», aquando da entrada de dois sócios e da Empresa de Empreendimentos J. Pimenta.
Este cozinheiro que apresenta na base a marca «Madalena» será portanto anterior a 1970 e mostra-nos duas coisas: uma afeição de J. Pimenta à ideia de associação da sua actividade à especiaria com o mesmo nome e ao imaginário culinário e um conhecimento anterior da fábrica de cerâmica, o que viria a dar os seus frutos, ao tornar-se sócio.

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