terça-feira, 5 de agosto de 2014

A goiabada Peixe

Em 9 de Maio de 1999 o brasileiro Jornal do Comércio, noticiava o desmantelamento da Fábrica Peixe em Pesqueira, encerrada desde 1998 e a transferência da maquinaria para outros locais. Começava assim uma história de múltiplas aquisições da marca por vários grupos de produtos alimentares como a Bombril-Círio Brasil, entre outros, que levaria ao fim da produção.
Fundada em 1888 por Carlos Frederico Xavier de Brito aproveitando o êxito de sua mulher Maria da Conceição Cavalcanti de Brito que, com a ajuda da filha de uma doceira de Pitanga, D. Dina, iniciou a fabricação caseira de goiaba. 
O casal Brito
No início os doces eram feitos num tacho de cobre, cortados em pedaços e embrulhados em papéis recortados que uma criada levava num tabuleiro para vender pela cidade. Mas o negócio teve êxito e dentro de algum tempo já existia a Fábrica de Doces Maria Brito (MB).
Fotografia tirada da internet
O negócio expandiu-se e em 1904 aumentou a produção ao adquirir grandes tachos a vapor de origem inglesa que no livro Impressões do Brazil no Século Vinte, editado em 1913, era elogiado como sendo todo moderno dos fabricantes Joseph Backer & Sons e Blicer, movido por um motor a vapor e um outro da fábrica Crossley Bros. Ltd. movidos a vapor pelas caldeiras do fabricante G. Fletcher. Anexo à fábrica surgiu também uma latoaria que fazia as latas para a goiabada, terminado assim a tradição do «tijolo de goiaba», mais escuro e seco.
 Quando em 1910, apresentou os seus produtos na Exposição Internacional de Bruxelas, onde ganhou um prémio, produzia já, além da goiaba, massa de tomate. A esta pequena produção iria seguir-se o desenvolvimento da cultura do tomate na região e uma capacidade maior de produção de massa de tomate ao que se seguiria, em 1928, a produção de “extracto” de tomate, tornando-se no principal produtor do Brasil, para a qual contribuíram já os seus filhos Cândido e Joaquim.
Apesar desta actividade só em 1916 foi constituída a sociedade com a denominação de Carlos de Britto & Cia e apenas em 1938 foi feito o registo de «Grandes Fábricas Peixe».
Foi também nesta década de 1930, de grande desenvolvimento do Munícípio de Pesqueira, que surgiu a publicidade aos produtos da Fábrica Peixe no Almanach Tico-Tico de que se mostram imagens.
Em 1948 a firma Carlos Brito & Cª transforma-se em sociedade anónima mostrando já necessidade de entrada de outros capitais e a partir daí entrou em linha descendente. Em Fevereiro de 1998, o Grupo Bombril-Círio adquiriu e iniciou sua recuperação, que seria breve porque no final do ano a fábrica seria novamente fechada.
Era o fim de uma época de desenvolvimento local, que havia levado ao aparecimento de outras fábricas contemporâneas de doces como a Rosas, Tigre, Touro, que também terminaram.
Quanto à «Goiabada Peixe» desapareceu mas o seu impacto foi tal que ficou na literatura brasileira o registo dos elogios ao seu gosto, perpetuado por vários escritores que a ela se referiram como sendo a melhor. 

PS: Nalgumas das folhas de publicidade é visível a assinatura «J.C.» de José Carlos de Brito e Cunha (1884-1950), um dos melhores designers gráficos da época.

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