sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

O termómetro moral do alcoolismo

Este copo de vidro, de origem desconhecida, destinado a bebidas espirituosas apresenta as marcas adequadas às quantidades a ingerir de forma a comportar-se como uma “Lady” ou  um “Gentleman”. Acima dessas doses pode-se esperar que as pessoas se comportem como um “porco” ou, em doses ainda maiores, ao nível superior, prevê-se que a pessoa passe a comportar-se como um “grande porco”.

Embora neste copo as representações tenham um sentido humorístico, na realidade a apreensão com os efeitos do alcoolismo vêm de há vários séculos atrás. Esta preocupação em associar a quantidade de álcool ingerido aos seus efeitos tinha um efeito pedagógico.
Ao vê-lo veio-me à ideia um interessante quadro publicado por um médico inglês John Coakley Lettsom (1744–1815) designado «Termómetro Moral e Físico».
Lettsom foi o fundador da Sociedade Médica de Londres, em 1773, mas a sua acção foi muito mais vasta.
Nas suas viagens estudou insectos e escreveu um livro de entomologia chamado The naturalist's and traveler's companion, containing instructions for collecting and preserving objects of natural history and for promoting inquiries after human knowledge in general, publicado em 1774.
O seu principal papel foi contudo como filantropo. Apoiou as classes mais desprotegidas da sociedade, dando consultas e conselhos, de tal modo que acabou por perder toda a sua fortuna nesta actividade, incluindo a sua casa de família.
Um dos seus focos de interesse foi o alcoolismo e a sua associação à perturbação social e ao crime. A sua preocupação com a «temperança», uma das virtudes cristãs, inscrevia-se nesse quadro que começou por ser publicado em 1780, de forma simples.
Nele se estabelecia a relação das bebidas com o comportamento humano. Começando pela água, segue-se a cerveja, a cidra, o vinho e já na secção da «intemperança» as bebidas mais alcoólicas da época como o ponche, o toddy, o flip, o grog, o gin e o brandy.
Lettsom estabeleceu contudo uma relação não só com o grau alcoólico da bebida (lembre-se que na época não existiam ainda alcoolímetros), mas também com a hora do dia. Estas variáveis levavam a resultados diferentes que o autor identificava. Da serenidade de espírito, reputação, longa vida e felicidade até ao desespero, apoplexia e loucura, passando pela doença, pela mentira e pela prisão, estão representados todos os efeitos do alcóol na desregulação da vida.
Já no século XIX, em 1827, surgiu uma nova versão do quadro, ilustrada, em que se representavam os quadros familiares em que decorriam as alterações provocadas pelos alcóol. Mais bonito, perdia o cunho científico médico e tornava-se mais compreensível para todos e por conseguinte mais eficaz.
Imagens interessantes e extremamente didácticas numa sociedade minada pelo vício do alcóol.

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