terça-feira, 21 de abril de 2009

Livros radiofónicos e um conceito de raridade

Há alguns anos atrás encontrei um livro português de culinária à venda num alfarrabista de que nunca tinha ouvido falar . O preço que me pediram pareceu-me excessivo.
Fiquei indecisa e resolvi telefonar a um amigo meu livreiro, o Luís Gomes, e perguntar-lhe o que achava do preço. A resposta dele foi rápida. «Se não o conhece, e não o tem, compre-o». Não era a resposta que eu esperava mas fez todo o sentido na minha cabeça. Na verdade já então eu tinha um bom conhecimento dos livros antigos de culinária publicados em Portugal e felizmente tenho uma biblioteca bastante completa nessa área. Aproveitei o conselho, que me tem sido útil ao longo da vida, e que passei a aplicar também aos objectos de cozinha e mesa que vou comprando.

Foi assim que comprei as colheres para absinto, de que já falei, e alguns outros objectos, que no momento da compra eu não sabia para que serviam. Ainda hoje tenho objectos que não sei para que servem, mas com o tempo vou descobrir.
Esta introdução vem a propósito de um e-mail de uma leitora fiel do meu blog, a Helena Mesquita, que eu não tenho o prazer de conhecer.

A propósito de uma entrada minha sobre livros de culinária lembrou-se de um livro que uma familiar sua possuía e que a fazia sorrir.
Achava ela que eu devia conhecer estes livros, mas na realidade não conhecia.

O livro em causa, de que me enviou uma foto da capa, data de 1960, e foi publicado para ser oferecido às ouvintes de folhetins radiofónicos.
A forma de distribuição é desconhecida, mas como a Helena alvitrou, seria possivelmente oferecido às leitoras que respondessem a perguntas relacionadas com o drama radiofónico. Neste caso tratava-se de “Triunfo de Amor” .
No seu interior encontram-se receitas culinárias mas no início existe uma foto autografada da pessoa que fazia a “voz principal”. Segue-se o nome de todo o elenco que participava no folhetim e só por fim as receitas.
Lembro-me da época da minha infância, ainda sem televisão, em que em casa se ouviam estes folhetins. Recordo principalmente as aventuras de «Miguel Strogoff”, que passava à hora de almoço e que por vezes nos forçava a interromper o almoço para chorar, como quando o mesmo foi cego com um ferro quente.
O folhetim, baseado no livro com o mesmo nome, da autoria de Júlio Verne, publicado em 1876, narrava as aventuras do Correio do Czar que atravessava o império russo para entregar ao Grão Duque uma mensagem secreta. Pelo longo caminho foram-lhe acontecendo várias desventuras, resultado de encontros com os traidores do Czar, mas no final Miguel Strogoff acaba bem sucedido e transforma-se num modelo de virtudes e coragem. É possível que não tivesse sido o livro mas o filme sobre ele realizado em 1956, com Curd Jürgens, que tivesse desencadeado este entusiasmo pela personagem.
Embalagem de Tide dos anos 50
No entanto o folhetim mais ouvido, e que ficou no imaginário das pessoas daquela época, foi o folhetim «A força do Destino» apresentado como Teatro Tide e transmitido pelo Rádio Clube Português a partir de 1955.
Não me recordo nada da história e não sei se alguma vez a ouvi, mas todas as pessoas identificavam o teatro Tide com uma “desgraça” radiofónica. A vítima, uma jovem apaixonada, que andava de muletas, ficou conhecida pela “coxinha”, o que acabou por lhe ser atribuído o nome do «Teatro da coxinha», usado depois depreciativamente para se referir a um melodrama de mau gosto.
Estes programas eram uma forma de publicidade ao produto, neste caso o detergente em pó Tide, que embora muito usado nos Estados Unidos nunca teve grande sucesso em Portugal. Nem estas técnicas precursoras de marketing lhe valeram. O sabão azul e branco continuou a ser considerado melhor para a roupa, só tendo concorrência no Sonasol.

A minha surpresa foi a descoberta de um livro de culinária associado a estes folhetins e que, provavelmente, não será caso único.

Banda desenhada publicitária ao Tide e à Máquina de Lavar Whirlpool

4 comentários:

A.Teixeira disse...

Passei apenas para comentar que, tanto quanto me lembro, um tamagotchi não podia ser assim tão interessante...

Nem sequer era legível... Copiando o estilo do tonto que o PS quer que se mande para Estrasburgo: assim a analogia não procede...

Ana Marques Pereira disse...

É melhor eu explicar que te referes a um comentário meu de que um blog é uma espécie de "tamagochi" porque é necessário alimentá-lo senão morre. Esta responsabilidade fez-me adiar este projecto. Agora acho graça alimentar este tamagochi. Bj.

Sofia Loureiro dos Santos disse...

Só para te dizer que não gostei dos "tamagochis" mas adoro o teu blogue.

Anónimo disse...

Bem, depois de uma longa ausência, cá estou eu de volta. Só para dizer que me lembro muito bem desse folhetim do Tide e da desgraça da coxinha. Lembro-me até de muitas pessoas andarem com os "transistors"(surgidos na altura)na rua e em toda a parte, só para não perderem nenhum dos episódios. E em Lisboa havia o grupo das donas de casa qie eram fans do Tide e as que eram fans do OMO (lava mais branco, lembram-se?) e que eram rivais. Tal como as fans da Simone de Oliveira e da Madalena Iglésias. E já agora também gostava de saber donde vem o nome de sabão macaco. Bj.
Isabel Kiki