quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Saleiros de cozinha


Hoje damos pouca importância ao sal. Chegamos mesmo a considerá-lo um inimigo. Os médicos recomendam: «Cuidado. Não coma com muito sal». Isto deve-se a que os portugueses têm tendência a exagerar na quantidade de sal que ingerem. Mas é um elemento importantíssimo na alimentação. Sem sódio (como sabem o sal é cloreto de sódio) as pessoas ficam prostradas, sonolentas, sem actividade. E o agravamento da hiponatremia (baixa de sódio no sangue) pode mesmo levar à morte. Mas o que nós sabemos hoje, já se sabia, de forma empírica, na antiguidade. O sal chegou mesmo a servir de “moeda de troca” quando ainda não havia dinheiro. Foi muito importante na economia portuguesa e em geral na de todos os países do mediterrâneo. A sua relevância pode mesmo comparar-se àquela que tem o petróleo nos nossos dias.
Mas o aspecto que não podemos deixar de esquecer é o do sabor que confere aos alimentos. Com um pouco de sal os alimentos ficam mais apetitosos.

A utilização do sal foi também muito importante, antes da era da congelação, para a conservação dos alimentos. Em Portugal temos ainda muitos exemplos desse tipo de utilização em especial no Alentejo e em Trás-os-Montes.

Na Idade Média, em que poucos objectos eram usados sobre a mesa, o saleiro estava sempre presente. Era o objecto principal e, de tal modo importante que, nas casas ricas, era um objecto de ourivesaria. Subsistem ainda hoje saleiros imponentes, em ouro, adornados de pedras preciosas de que o saleiro feito por Benvenuto Cellini, em 1540, para o rei Francisco I de França é considerado o expoente máximo.

Mas se os ricos saleiros de mesa se conservaram, o mesmo não se pode dizer dos saleiros das cozinhas. O seu pouco valor e o facto de serem facilmente deterioráveis levaram ao seu desaparecimento.

Das várias cozinhas que visitámos observamos, nas mais antigas, dois tipos de saleiros. O mais simples eram constituídos por um buraco na parede de granito, perto da zona da lareira, onde se metia a mão para tirar o sal. Encontrámos esta solução tanto em casas senhoriais como em casas populares. Provavelmente persistem casos em que as pessoas não lhes atribuem qualquer função ou podem mesmo ter sido tapados.

Um outro tipo de saleiro de cozinha era construído em madeira. Feitos de forma simples, ou com entalhes na madeira, desapareceram quase todos, apodrecidos pela humidade. Vimo-los, em forma de caixa quadrada, com tampa, colocados sobre a mesa ou de forma paralelipipédica, com quatro pés e abertura na frente para introduzir a mão. Este tipo era colocado no chão junto á lareira. Vimos um exemplar na Beira Baixa, em Cebolais de Baixo e um outro em Figueira de Castelo Rodrigo, em casa da Srª Dª Sara. No Museu de Escalhão existe um exemplar idêntico, sem pés, de afixar à parede.

Durante o século XX com a divulgação do esmalte, usaram-se saleiros neste material. De várias cores e com a palavra SAL no bojo, apresentavam como forma mais frequente, um meio cilindro e tinham tampa em madeira. Quando se divulgou o alumínio passaram a usar-se saleiros de cozinha de forma idêntica aos de esmalte ou com a forma de cilindro, com tampa igualmente em alumínio.
Também os saleiros em faiança vidrada tiveram divulgação. De forma variada não identificamos uma tipologia única.

Muitos outros me terão escapado à observação, mas gostaria de contar com a colaboração dos mais atentos, para colmatar essas falhas. Até breve.

4 comentários:

Chico Muniz disse...

De sal e saleeiros:

Faltou, talvez, dizeres que, de tão importante, o sal foi também utilizado pelo Cristo para proferir uma de suas belas lições à Huamnidade, ao afirmar "Vós sois o sal da terra; se o sal se perder, com que se há de salgar?"
De modo que os homens são, eles próprios, verdadeiros saleiros...

Não te parece?

Gostei de teu texto.

Antonio48 disse...

Finalmente que no horizonte desta temática, surge um "blog" que parece (e que promete...) ser bem interessante. Voltarei mais vezes, e com bastante frequência, espero. Parabéns pela iniciativa, pelo bom gosto e pela qualidade dos textos. Até breve

A.Teixeira disse...

No mundo mediterrânico, dadas as condições de insolação e a proximidade do mar, o sal teve um valor relativo baixo como produto comercial.

Mas noutras civilizações, como a do Império Mandingo do Mali (Século XIII ao Século XVI), a importância das minas de sal-gema era tal, que esteve por detrás da ascensão de pólos civilizacionais como as cidades de Taghaza e de Taoudenni.

A escassez de sal no resto do Império era tal que obrigava os mais pobres a extrair do excremento da vaca um seu sucedâneo. Não é por isso de estranhar que o sal fosse transaccionado em blocos de 200 libras contra o pagamento em ouro…

Anónimo disse...

Introdução. A correcção ‘rápida’ da hiponatrémia é uma situação por si só perigosa para o doente. Existe uma associação entre a correcção ‘rápida’ do sódio sérico e o síndroma de desmielinização osmótica, caracterizada por perda de mielina em neurónios da ponte, assim como em locais extraponticos, como cápsula interna, gânglios da base, cerebelo e cérebro. Embora tenham sido descritos casos de hiponatrémia durante a gravidez, foram muito poucas as ocasiões em que foi possível demonstrar, através de imagens ou por autópsia, lesões desmielinizantes do cérebro. Apresenta-se o caso de uma doente grávida, que desenvolveu este problema e que teve uma resposta interessante a levodopa. Caso clínico. Trata-se de uma mulher de 27 anos, que durante seis dias apresentou fraqueza muscular generalizada progressiva. Teve alta recentemente,após ter feito tratamento para hiperemese gravídica. Os estudos imagiológicos demonstraram mielinólise pontica e extrapontica. Recebeu tratamento com levodopa, melhorando dos sintomas extrapiramidais. Conclusões. A hiponatrémia é a perturbação electrolítico mais frequentemente observado na população hospitalar. Os sintomas clássicos de mielinólise são, tetraparesia espástica e paralisia pseudobulbar, os quais reflectem lesão das vias corticospinal e corticobulbar. A hiponatrémia sintomática grave é uma emergência médica que deveria ser tratada por pessoal treinados para esse fim, dado que o tratamento é delicado tanto quanto a condição em si. São necessários novos estudos para identificar os factores de risco, assim como os factores, pelos quais o aumento de sódio produz lesões na mielina