quarta-feira, 17 de abril de 2024

Um brinde da Taberna Ingleza

 

A empresa que havia fundado a Taberna Ingleza, em 1908, ofereceu aos seus clientes um pequeno Almanack-Brinde para o ano de 1909.

Situada na Rua Jardim do Regedor, 33, em Lisboa, perto dos Restauradores, numa zona então muito movimentada, era descrita como “um elegante restaurante que tomou o título da célebre e bem conhecida Taberna Ingleza, que há anos existiu no Cais do Sodré”.

Referia-se assim a um dos restaurantes que existiu na zona ribeirinha, no local onde se situava um botequim do Marrare. António Marrare fundou quatro botequins: o de S. Carlos à esquina da Rua da Figueira (hoje rua Anchieta); o chamado Marrare das Sete Portas no Arco do Bandeira; o Marrare de Polimento no Chiado, e o do Cais do Sodré N° 9, à esquina da Travessa dos Romulares.

Este último acabou em 30 de Junho de 1827,[1] e daria lugar à Taberna Ingleza. Esta daria depois lugar ao Café Price. Em 1880 no Novo Guia do Viajante era referido: “Fornece almoços e mesmo jantares à inglesa; é notável pelos seus bifes, e muito frequentada por estrangeiros e marítimos”.[2]

 Esta nova Taberna Ingleza era “Um restaurante simples, elegante, confortável …. Uma casa onde o freguês estivesse bem e à sua vontade”. Acrescentando: “que “aceita às suas mesas todas as classes da sociedade quando elas se apresentem com decência e ordem”. 

O pequeno almanaque incluía um calendário com os meses e identificação dos santos por dias; uma pequena história intitulada “Um bom conselho”, em que aproveitava par realçara a qualidade da sua comida; provérbios relacionados com a alimentação e terminava com uma poesia-oração “A devoção do Barqueiro”.

Como diziam no início, a oferta do Almanaque era uma prova de reconhecimento às pessoas que, “com a sua visita tem honrado a Taberna Ingleza".



[1] Tinop. Lisboa de Outros Tempos. 1889: 127.

[2] Novo guia do viajante em Lisboa, Cintra, Collares, Mafra, Batalha, setubal, Santarem, Coimbra e Bussaco. Precedido d'uma introd. de Julio Cesar Machado. 1880.

 

 

segunda-feira, 1 de abril de 2024

Convite: Apresentação do livro "Receitas Particulares e Curiosas no MNMC

É já na próxima 5ª feira a apresentação do livro "Receitas particulares e Curiosas" da família Coelho Villasboas , baseado em manuscritos culinários dos descendentes da família.  

Trata-se de registos da primeira metade do século XIX da região Norte, onde a família viveu e que inclui as cidades do Porto, Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo e Ponte de  Lima.

Para quem puder e quiser ir, lá os aguardo.


sábado, 30 de março de 2024

Luís de Sttau Monteiro nos "Sabores da Escrita", em Coimbra

 

Para comemorar o 25 de Abril, num jantar como as características dos “Sabores da Escrita” quem melhor do que relembrar a figura de Luís de Sttau Monteiro.

Aliando as características de um gastrónomo às de um defensor da liberdade da escrita, farei uma pequena apresentação da sua actividade, na Escola Hoteleira em Coimbra.

Apoiando-me no texto do meu livro Luís de Sttau Monteiro Gastrónomo, farei uma curta apresentação sobre este tema. Segue-se um jantar com receitas de Sttau Monteiro, adaptadas aos dias de hoje, que promete boas surpresas.

Aqui fica o convite e a ementa. Apareçam.

quarta-feira, 27 de março de 2024

Objecto mistério Nº 66. Resposta: Suporte de cálices de licor

 

Quando me chegou às mãos desconhecia para que servia. A sua forma longilínea, com uma barra central articulada com reentrâncias circulares, fez-me crer que se destinava a colocar cálices. Experimentei e ficou quase perfeito. Na realidade as hastes dos cálices deviam ser um pouco mais baixas e a campânula ligeiramente mais pequena. Mas o fim era este: transportar em segurança seis pequenos cálices.

De estética Art Deco, tem na base uma das marcas da WMF. Esta importante fábrica alemã foi fundada em 1853 por Daniel Straub, juntamente com os irmãos Schweizer, com o nome Straub & Schweizer. Em 1880, a empresa fundiu-se com a Metallwarenfabrik Ritter & Co. para formar a sociedade anónima Württembergische Metallwarenfabrik (WMF), com sede em Geislingen.

Marca tirada do site de David N. Nikogosyan

O G que surge abaixo da marca refere-se na realidade a essa cidade. A partir de 1925 os produtos ficaram mais artísticos graças à criação de um Departamento de Produtos Decorativos Contemporâneos (NKA). Criado sob a direção de Hugo Debach tinha o objectivo de consolidar o nome WMF entre os consumidores interessados em arte e design. Na fábrica que ainda hoje existe trabalharam nomes conhecidos de que saliento o nome de Peter Behrens, entre outros.

O estudo das marcas é complexo e consultei o trabalho do alemão David N. Nikogosyan. Coleccionador de peças WMF guiou-me pelas inúmeras marcas e permitiu-me concluir que a peça é de 1909-1920, apesar de existirem imensas variantes que a poderão colocar em 1925. De qualquer modo uma peça moderníssima para a época.

segunda-feira, 25 de março de 2024

Objecto Mistério Nº 66. Pergunta.

Este objecto em metal tem cerca de 45 cm de comprimento por 6 cm de largura.

Para que servia e como se designava?




quarta-feira, 20 de março de 2024

Apresentação em Coimbra

 Para quem vive na zona e se interesse por este tema, fica um aviso prévio da apresentação do livro "Receitas particulares e Curiosas".



segunda-feira, 11 de março de 2024

A cozinheira da República

Chamava-se Júlia dos Santos e foi a proprietária da “Barraca Alegre”, que funcionava na “Feira de Agosto” no local da Rotunda. 
Mulher a assar sardinhas. Feira de Agosto. Arquivo CML.
Nesse local funcionavam também os teatros Maria Vitória e Júlia Mendes e vários barracas de farturas e a da Maria Botas, que tinham vindo das feiras de Belém e de Alcântara e que mais tarde iriam para o Parque Mayer. Júlia dos Santos refere igualmente o Artur das Farturas, que posteriormente iria também estabelecer-se no Parque Mayer.
Feira de Agosto. Arquivo Fotográfico CML
A chamada “cozinheira da República” foi entrevistada em 1931 por Tomé Vieira para o jornal O Notícias Ilustrado. Nas vésperas da revolução havia fugido do seu local de venda, receosa, até porque tinha tido conhecimento do assassinato do Dr. Miguel Bombarda, que havia sido seu médico. Voltou à sua barraca para acautelar os seus pertences, mas acordou rodeada por tropa e gente armada.

Cruzou-se com o tenente Brandão, na casa de quem havia trabalhado, que ao vê-la disse para Machado Santos: “Já temos cozinheira”. António Machado Santos foi considerado um herói da Rotunda e um pai da República., tendo tido uma vida atribulada, com altos e baixos até ao seu assassinato na Noite sangrenta de 19 de Outubro de 1921.

Aos olhos de Júlia Santos ele era já um herói. Descrevia-o como estando sempre em movimento, a dar ordens aos homens que dirigia. Quando chegou ao local dirigiu-se a todas as barracas de “comes e bebes” e mandou despejar os barris de vinho no chão e partir as garrafas de bebidas. Explicou que não queria que o pessoal se embebedasse. O jornalista comentou então que teria tido grande prejuízo. A resposta foi: “Não, pagaram tudo”.

Acrescentou ainda que, depois que acabou a revolução, Machado Santos disse-lhe: “Fica encarregada de distribuir pelos pobres todos os géneros que ali estão”. Assim fez e, esse bodo aos pobres, passados todos aqueles anos, ainda lhe trazia recordações felizes.

Na altura da entrevista vivia na “Villa Fernando”, na Rua Possidónio da Silva, rodeada pelos netos e com o marido paralítico, agradecia agora que se lembrassem dela.

As fotos, da autoria de Ferreira da Cunha, ilustravam o artigo.